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Fábrica Simões & Ca. Lda. (Malhas e Confecções)

Descrição:
O espaço edificado organizava-se em torno de um corpo principal com planta em L, que tinha o seu lado de maior comprimento posicionado ao longo da avenida Gomes Pereira, artéria principal, e o lado menor, perpendicular a esta. Esta estrutura, de maior visibilidade e melhor tratamento de fachada, tinha por objetivo impor-se no espaço urbano, marcando a sua presença no ambiente envolvente. Assim, era composta por dois pisos elevados e um terceiro enterrado, e um canto arredondado, onde se lia o nome da fábrica. As restantes dependências operativas de produção em banda, com apenas um piso, erguiam-se nas traseiras deste corpo principal, criando um pátio interior ao qual se acedia por um pórtico inferior ao corpo principal, com acesso direto à Avenida Gomes Pereira.

Este núcleo da década de 20, atestava bem a época em que foi edificado com a aplicação do ferro nas estruturas, resultando em espaços amplos com o uso de pilares metálicos; com a inspiração na Arte Deco, quer na aplicação dos elementos decorativos nas fachadas a norte e a poente do corpo principal, quer na aplicação de um sistema de arejamento e iluminação, a nível da cobertura em lanternim, ou em shed, nos edifícios mais baixos; quer a nível da abertura de janelas, em repetição ritmada ao longo de toda a fachada.

O corpo principal apresentava uma fachada decorada com largas janelas tripartidas, do tipo termal, no piso superior, e de verga reta no inferior, de caixilharia em madeira, permitindo uma boa entrada de luz no interior. O sistema construtivo assentava em paredes de alvenaria de pedra, com elementos de remate em pedra e apontamentos em tijolo no lintel das janelas, na fachada interior do quarteirão; os pavimentos dos pisos inferiores com acabamento em betonilha e piso elevado em barrotes e soalho de madeira assentavam sobre uma estrutura de pilares e vigas metálicas; a cobertura era de duas águas em telhas marselha, com estrutura em asna de madeira.

A fachada dos edifícios de cota mais baixa era marcada por acentuação da estrutura, gerando módulos de repetição de panos, fachada em alvenaria de tijolo onde foram abertas janelas proporcionais ao módulo; a cobertura variava entre duas águas de telha marselha com lanternim e estrutura em asnas de madeira, e a cobertura em shed, permitindo, mais uma vez, uma boa iluminação do interior.

As tipologias industriais do início do século 20, eram conjuntos edificados em constante desenvolvimento tecnológico e de crescente aumento de produtividade, o que tornava recorrente o aumento das instalações e a sua adaptação às inovações e alterações. Deste modo, em resposta à crescente produção da fábrica procedeu-se, na década de 40, à ampliação do núcleo inicial, com projeto do arquiteto Raul Tojal.

O aumento das instalações, fez-se em torno dos núcleos pré-existentes, numa posição paralela aos anteriores, para nascente e norte. Estes núcleos tomaram formas construtivas semelhantes aos edifícios anteriores de cota baixa, apenas com um piso térreo, com sistemas construtivos e cobertura semelhantes, com aplicação de materiais mais modernos nos sistemas em shed, na caixilharia. Ao longo do tempo, foram feitas pequenas adições ao núcleo original, alguns dos antigos conjuntos foram demolidos e nasceram novas zonas de passagem e acessos, alterando o conjunto original.

O aumento das instalações fabris fez-se em torno dos núcleos pré-existentes, numa posição paralela aos anteriores, para nascente e norte, dentro dos limites do terreno existente no interior do pátio, transpondo também a ribeira já em caneiro. Estes núcleos tomaram formas construtivas semelhantes aos edifícios anteriores da cota baixa, apenas com um piso térreo, com sistemas construtivos e cobertura semelhantes, aberturas de vãos, módulos espaciais, marcação de estruturas no exterior e acabamentos semelhantes, com aplicação de materiais mais modernos nos sistemas de shed e caixilharia. Pequenas adições foram feitas no núcleo original, tendo sido substituídas as antigas escadas de acesso exterior aos pisos superiores anteriormente em metal para betão.

Cronologia:

1907 – A empresa Simões & Cª Lda. é fundada por José Simões, um autodidata, antigo operário têxtil, juntamente com os seus cunhados Francisco Rodrigues e Adelino Rodrigues Figueiredo, com uma máquina de costura, na Ponte Velha, em Palma de Baixo.

1920/1921 – O núcleo inicial expande-se para Benfica e inaugura novas instalações sob o nome Simões & Cª Lda., - Fábrica de Artefactos de Malhas.

1940’s – Ampliação do edificado segundo projeto do arquiteto Raul Tojal, em resposta à crescente produção da fábrica.

1960 – Morte de José Simões.

1974, 25 de Abril – Após a Revolução a fábrica entra num processo de falência.

1987 – Encerramento da fábrica.

1990, janeiro – É abandonada a função de indústria e os donos, Rodrigues e Figueiredo, fazem uma proposta à Câmara Municipal de Lisboa para a ocupação do espaço por meio de loteamento. Após a publicação da zona como alvo da operação urbanística, a Teixeira Duarte adquire o terreno através do fundo TDF Sociedade Gestora de Fundos de Investimento – atual proprietária dos terrenos.

1996 – A fábrica é alvo de um incêndio que destrói várias dependências do aglomerado fabril.

1997 – É aprovado e publicado o Plano de Pormenor do Eixo Luz-Benfica que estabelece as indicações de loteamento na fábrica.

2008 – Alterações ao Plano de Pormenor do Eixo Luz-Benfica, relativamente à área bruta de construção e de implantação máxima permitida

Até 2018 – O espaço da fábrica foi explorado pela empresa Rodrigues e Figueiredo através da locação de espaços de armazéns e estacionamento automóvel. Nos espaços encontram-se empresas como a Mu Work Space (um espaço de cowork para empresas ligadas às artes) e o Armazém 13 (atelier de artes circenses).

2019, agosto – A Teixeira Duarte, dá início ao projeto de construção do empreendimento habitacional no local da antiga Fábrica.

Factos históricos e curiosidades:

A implantação de edifícios fabris de carácter têxtil, está diretamente relacionada com a existência de cursos de água, para responder às necessidades da tinturaria, e zonas planas, permitindo implantar edifícios de grande dimensão, com capacidade de albergar grandes mecanismos de produção, facto que justificou a construção da fábrica Simões junta da Ribeira de Alcântara, hoje encanada, e numa zona baixa e plana, junto às principais vias de circulação, que permitia o escoamento da produção.

Sobre José Simões: «(…) esplendido temperamento de industrial, sócio-gerente daquela firma. O perfil dêsse homem traça-se dêste modo, à la minute: franco, afável, acessível. Pouco falador, vê-se que medita bem o que diz, apesar de não levar muito tempo a responder às nossas perguntas. Homem de método e organisação. Fez-se por si, subiu a pulso. Assim se compreende a grande admiração que confessa ter pelo Ford, o célebre multi-milionário norte-americano.» (in Revista da Associação Industrial Portuguesa, 1º Ano, N.º 1, março de 1928, p. 23).

José Simões, adotou, desde cedo, um sistema de apoio social para os seus trabalhadores. Com mão de obra de ambos os sexos, associou ao conjunto industrial, por exemplo, uma creche e um refeitório. Aos filhos dos trabalhadores, não só disponibilizava a creche, localizada em frente à fábrica, onde davam banho às crianças todos os dias, como os vestia dos pés à cabeça na altura do Natal, oferecendo, ainda, por essa data, uma presente a cada uma. [fotos] Quando morreu, em 1960, deixou uma quantia em dinheiro a cada funcionário.

Com a morte do fundador, José Simões, a situação financeira da empresa foi-se degradando, motivada, em grande parte, por erros de gestão. A situação ditou a intervenção do Estado, em abril de 1975, através de um empréstimo de 25 contos, a médio prazo a que se seguiu um outro de 5 mil contos efetuado posteriormente pela Caixa Geral dos Depósitos. Porém, estas verbas, bem como outras concedidas posteriormente, permitiram apenas colmatar despesas normais de gestão, como pagamento de salários, aquisição de matérias-primas, consumo de energia, não restando qualquer excedente que permitisse uma aplicação na reestruturação da empresa, ou mesmo numa expansão adequada à crescente procura dos artigos que fabricava, levando à procura constante do crédito da banca.

Por altura dos anos 70, o equipamento tecnológico era já antiquado, com máquinas que contavam com cerca de 20 ou 30 anos, a mão de obra pouco qualificada, aliada à falta de investimento, impediam a empresa de competir com outras congéneres mais modernas.

Sobre a fábrica: «É a ampliação da fábrica antiga da Ponte Velha, em Palma de Baixo. São 13 salões enormes, arejados, sadios, medindo 36 metros de cumprimento por 13 de largura. A área total do estabelecimento fabril é, números redondos, de 5.000 metros quadrados, mas como são dois pavimentos, temos, de facto, 10.000 metros ocupados» (in Revista da Associação Industrial Portuguesa, 1º Ano, N.º 1, março de 1928, p. 24).

Aquando da sua fundação, seguiu os mais avançados sistemas industriais da época, com mecanização servida por 500 teares americanos autómatos e um sistema racional de montagem, dividida pelas secções de dobragem e preparação de fios, meias finas, costura e tinturaria.

A fábrica procurou adequar os mecanismos de produtividade com um bom sistema de arejamento e iluminação das largas janelas tripartidas, do tipo termal, no piso superior, e de verga reta no inferior, no corpo principal que através dos telhados e, shed ou com lanternim que aparecem nas construções posteriores.

A empresa introduziu em Portugal tecnologia importada inovadora, criou e fabricou máquinas para a produção têxtil, chegou a ter mais de 1 500 trabalhadores, tendo desempenhado um papel importante na fixação de pessoas e serviços em Benfica, a partir do início da década de 1920.

Sobre as condições da fábrica: «Trabalham na fábrica Simões, de Benfica algumas centenas de operários. Pois bem, diga-se desde já, tudo aquilo sob o ponto de vista da higiene é admirável, com retretes, lavatórios e aquecimento em todos os salões principais» (in Revista da Associação Industrial Portuguesa, 1º Ano, N.º 1, Março de 1928, p. 25).

Adotou, desde cedo, um sistema de apoio social eficaz para os seus trabalhadores, obra social e económica, com mão-de-obra de ambos os sexos, tendo associado ao conjunto industrial uma creche e habitação operária.

A fábrica produzia para o mercado nacional e para exportação, tendo sempre capitais nacionais, e era uma das mais importantes empresas de malhas de toda a Península Ibérica.

Possuía os mais avançados sistemas industriais da época, com mecanização servida por 500 teares automáticos americanos e um sistema racional de montagem, dividida pelas seções de dobragem e preparação dos fios, meias finas, costura e tinturaria.

A A Fábrica Simões, marcou profundamente a memória coletiva da freguesia, produziu tanto para o mercado nacional como internacional, marcas de elevada qualidade como a Suprema, Caron, TV ou as meias CD; introduziu em Portugal tecnologia importada e inovadora; criou e fabricou máquinas para produção têxtil – José Simões chegou mesmo a receber um prémio de inovação pela invenção de uma nova máquina de fabrico têxtil – chegou a empregar mais de 1500 trabalhadores e, tempos houve em que laborou sem parar, começando as mulheres um 1º turno às 6h da manhã e o último terminando às 23h30, entrando os homens pela noite dentro – desempenhou um importante papel no desenvolvimento e fixação de pessoas e serviços na freguesia.


Morada:Avenida Gomes Pereira, 11 - 13