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Palácio Baldaya

Local: Estrada de Benfica, 701


Descrição:


No seu aspeto atual, podemos distinguir claramente, pelo menos, duas épocas diferentes de construção. Os dois pisos inferiores, até à cornija, denunciam um gosto português de finais do século 18, de modulação regular dos vãos, privilegiando o eixo da entrada, central em relação ao edifício, com o portal unido à janela do primeiro piso, que mantém a axialidade através do remate curvo que a diferencia das outras. A mansarda é um acrescento do século 19, possivelmente já da segunda metade, que juntamente com o revestimento cerâmico da fachada, confere ao edifício um ar afrancesado de gosto romântico.


Aquando da intervenção feita pela Junta de Freguesia, em 2017, o edifício muda de cor, para um azul forte, é aberta uma entrada lateral e, na empena ao lado da nova entra, é encomendada uma intervenção ao artista urbano RAF. Este indo beber à arte nova, estilo muito apreciado entre finais do século 19 e inícios do século 20, criou uma imagem inspirada na Primavera de Alphonse Mucha, assinalando a entrada do Palácio. É, ainda, da autoria do artista urbano RAF, a parede do pavilhão contiguo ao jardim, com uma inspiração que nos remete para os elementos do jardim, como a libelinha, a mosca ou os peixes.


O jardim, evoca, ainda que de modo muito ténue, o antigo jardim da quinta. Divide-se em duas partes. Uma, mais pequena, quase quadrangular, calcetada, e outra, bem maior, de terra batida. O primeiro espaço é ocupado, pela fonte, de forma circular, com uma estatueta de peixe ao centro, de onde brota água. No tanque, vivem, entre outras espécies de peixes, várias carpas. Na parede da biblioteca um fontanário brasonado, transferido de um outro edifício, desconhecendo-se hoje a sua história.


Nesta área, especial destaque, para a magnólia, o arbusto de troncos torsos, logo à entrada do jardim e a árvore da castidade, classificada de interesse público desde 1997, tal como a eritrina crista-de-galo, que marca o início da segunda área do jardim. Esta de terra batida, de traça retangular, é marcado pela sobra criada por duas fileiras de tílias gigantes, e por onde se espalham canteiros com flores e plantas variadas, entre elas, algumas aromáticas como alfazema, margaridas ou estrelícias. Ao fundo, o tanque das tartarugas, aberto em forma de presépio, forrado a pedras. Nas traseiras do tanque, um viçoso bambu.


Cronologia:


1783 – Primeira fonte histórica escrita, identificada até à data, da existência da Quinta do Desembargador, situada nos terrenos da futura Quinta da Baldaia. No «Livro da Desobriga», desse ano, encontramos uma referência ao caseiro José Lopes e ao criado Policarpo que habitavam na Quinta, situada na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, na Estrada de Benfica, no lugar do Chafariz.


1786 - O proprietário da quinta, o Desembargador Manoel Inácio de Moura, faz um pedido à Rainha D. Maria I para proceder ao encanamento das sobras de águas do Chafariz do Lugar de Benfica, para usufruto na quinta, tendo pago para tal regalia 540 réis.


1840 – Data do registo paroquial onde se encontra referência escrita da residência de Dona Maria Joanna Baldaya, juntamente com o seu marido, João Nepomuceno de Atouguia de Sousa Coutinho, bem como de 6 criados.


1867 - É dada posse judicial do Palácio Baldaia a José Isidoro Escarlate, sobrinho de D. Joanna Baldaia e seu herdeiro legal. Daí por diante, a propriedade foi passando por vários membros da família.


1890 – Segundo relato do Padre Álvaro Proença, na sua obra «Benfica através dos tempos», é instalado no palacete o Hotel Mafra, que punha ao dispor dos hóspedes as suas velhas e boas instalações, dando-lhes a oportunidade de utilizar a quinta e apresentando um serviço de restaurante com duas categorias, consoante a sala e andar em que fosse servido. Nesse ano, o Livro das Almas da Paróquia, designa-o como Hospedaria e regista que nele viviam José Francisco Mafra, de 71 anos, com a sua mulher Ana Maria Mafra, de 62, dois filhos e 5 criados.


1899 - A propriedade é vendida, pelos herdeiros da família Baldaia, a Afonso Henriques Teixeira de Carvalho, pela quantia de 8 contos e 923 mil réis.


1904 – Afonso Henriques Teixeira de Carvalho vende a quinta a João Collares Pereira.


1918 – O Estado adquire a propriedade, constituída pela casa de habitação (o Palácio), as cavalariças, cocheiras, estábulos e outros alojamentos para animais e um terreno anexo de 18 mil m2, por 45 mil escudos, para aí instalar o Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia. Nos terrenos construíram-se pavilhões para a instalação de laboratórios.


1936 - Com o objetivo de dotar o laboratório de melhores instalações, o Governo adquire, por 304 mil e 500 escudos, a Quinta das Garridas, contígua à sede do Laboratório, com uma área total de 121 mil e 800 m2. Foi elaborado um anteprojeto de ampliação do Instituto, da autoria do Arquiteto Vitor Manuel Piloto, mas que acabou por não se concretizar. Aliás, em 1957, parte do terreno acabaria por ser cedido para a construção de um bairro de casa económicas.


2000 a 2006 - Os pavilhões são remodelados e modernizados, com a instalação de salas de contenção biológica P3 e a aquisição de novos equipamentos. Apesar das melhorias efetuadas nas infraestruturas, a necessidade de novas instalações, com outras condições, manteve-se. É desta altura, a realização de alguma obras no edifício do palacete, com é exemplo a colocação dos azulejos pombalinos num dos laboratórios, os da entrada e corredor, bem como dos azulejos de temática floral do primeiro piso.


2007 - Inicia-se o processo de extinção do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária enquanto instituição autónoma. Na sequência da reestruturação dos Laboratórios do Estado e ao abrigo do Decreto-Lei n.º 356/2007, de 29 de outubro, o Laboratório é integrado no recém-criado Instituto Nacional de Recursos Biológicos. Neste sentido, o projeto de construção iniciado em 2001 é abandonado.


2008 - O terreno e os edifícios do Laboratório são alienados, por ajuste direto, à Sociedade ESTAMO – Participação imobiliárias, S.A.


2009 (finais) – Saída dos últimos funcionários, fechando-se um ciclo de cerca de 100 anos na história do Palácio Baldaya.


2015, 1 de fevereiro – Celebração de um contrato de comodato entre a Câmara Municipal de Lisboa e a Junta de Freguesia de Benfica, assumindo esta a recuperação do edificado, já bastante degradado, com o intuito de aqui instalar um dos equipamentos culturais, tão necessários e desejados, da freguesia.


2017, 1 de setembro - O Palácio Baldaya abre as suas portas com a missão de fomentar atividades de domínio artístico-cultural, social, formativo/educativo, de inovação e de empregabilidade, com o objetivo de promover o desenvolvimento sociocultural, educativo e económico da freguesia. Para dar cumprimento à sua missão, assume as seguintes valências: biblioteca, ludoteca, espaços para eventos artístico-culturais (como exposições, conferências, lançamentos de livros, workshops, exposições, entre outras atividades), espaços de cowork; área de estudo e serviço de FormUp/núcleo do Centro Qualifica.


 


Factos e curiosidades:


O nome, pelo qual ainda hoje é conhecido, deve-se a uma das famílias proprietárias da segunda metade do século 19, a família Baldaya, nomeadamente na figura de D. Joanna Baldaya, que aqui terá vivido, ou pelo menos permanecido por longas temporadas, na sua última década de vida, tendo sido uma das grandes beneméritas da freguesia de Nossa Senhora do Amparo.


Joanna Baldaya morre em 1859. O seu testamento, é feita referência a inúmeras benfeitorias de cariz religioso das quais se destacam as destinadas ao Lugar de Benfica, tais como, um pedido de Legados, ou seja, a introdução da catequese e do ensino gratuito das primeiras letras a rapazes e raparigas em situação de pobreza, na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo; a oferta de 40 esmolas de 40 mil reis a 40 meninas ou senhoras maiores de idade, «mas solteiras e de bom comportamento» e 20 esmolas de 30 mil réis a 20 viúvas de bom comportamento das freguesias de Benfica, Ajuda e Lapa. De entre os muitos protegidos por D. Joanna, encontram-se Gertrudes Rosa e a sua filha Micaela Simplício dos Anjos, entregando-lhes as terras que tinha em frente à Igreja de Benfica, conhecidas por Vargem, para fazer o que lhes aprouver, garantindo, porém, que o marido de Gertrudes não herdasse nada caso alguma das duas morresse.


O Laboratório de Patologia Veterinária e Bacteriologia – primeira designação daquele que viria ser o Laboratório Nacional de Veterinária - é criado em 1913, com a missão de, de acordo com o texto de fundação, «estudar e diagnosticar as enzootias e epizootias; fabricar, fiscalizar e divulgar soros, vacinas e agentes de diagnóstico; realizar análises bacteriológicas e outras de produtos alimentares de origem animal e preparar culturas virulentas, para extinção de animais daninhos». O Laboratório é inicialmente instalado no edifício do antigo Mercado Central dos Produtos Agrícolas, no Terreiro do Trigo. Porém, as condições mostraram-se, logo de início, precárias o que levou à aquisição, pelo Estado, no ano de 1918, da propriedade Baldaia.


Para a história do espaço, enquanto laboratório, fica o registo, entre os vários trabalhos de investigação na área da saúde animal e consequente superação dos riscos na saúde pública, como, a título de exemplo, a produção da vacina de Umeno e Doi contra a raiva, as vacinas contra o carbúnculo hemático, a varíola ovina, a diarreia dos vitelos, a gurma e o aborto contagioso dos equídeos; fez face às crises da BSE, febre catarral dos ovinos, gripe aviária, entre outras.


Morada:Estrada de Benfica, 701