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Quinta do Peres / Quinta da Fonte do Calhariz

 Local: Travessa Francisco Resende, 55-59


Descrição:


Planta composta em T, localiza-se no extremo Sul da propriedade, definindo, com dependências que a confrontam a Oeste, um grande pátio sensivelmente retangular, por onde se faz o acesso e, a Este, um pequeno pátio de serviço.


O edifício desenvolve-se em dois pisos, encontrando-se o inferior parcialmente enterrado devido à pendente Sul/Norte do terreno, e apresenta volumetria escalonada, de que se destaca uma chaminé cónica, no extremo Este, sendo a cobertura efetuada por telhados a quatro e três águas, perfuradas por trapeiras. Um portão de ferro forjado, entre pilares de cantaria almofadados encimada por urnas do mesmo material, permite o acesso ao pátio definido pela construção de serviços e pela articulação das alas Oeste e Sul da casa senhorial. O alçado principal, a Oeste, é animado pela abertura, a eixo, da porta principal, de verga reta e emolduramento calcário, sobrepujada de ática, à qual se acede por escadaria de dois lanços retos convergentes, guarnecida por guarda de ferro forjado. De ambos os lados rasgam-se três janelas de peito com molduras pétreas, sendo o remate superior efetuado por beirado.


O alçado Sul é lateralmente delimitado por cunhais de cantaria, superiormente por beirado, acima do qual se elevam três trapeiras, e ritmado pela abertura de cinco janelas de peito, a que correspondem outras tantas aberturas no soco de placagem de cantaria.


No interior, sucessivamente transformado, reconhece-se o desenvolvimento dos principais compartimentos em toda a ala Sula, merecendo apenas menção a cozinha – estruturada por fogão de grandes dimensões, servido pela chaminé cónica, cujo intradorso se encontra revestido por azulejos do século XVIII reaproveitados.


A Norte da casa desenvolve-se o jardim formal, com dois eixos ortogonais convergindo em tanque oval.


Todo o conjunto, bem como o gosto geral do edifício, prolonga a tradições arquitetónica pombalina.


 


Cronologia:


1702 – Primeiros registos do local, pertença do desembargador Tomás de Caminha. Existem elementos que atestam uma fundação anterior.


 


Século XVIII (1750) – Habitada pelo cónego Manuel de Aguiar. O cónego vive na Quinta com a sua prima D. Catarina Maria Isidora da Assunção, três criadas, um caseiro e um escravo. A quinta é conhecida como Quinta da Fonte do Calhariz.


 


1765 – Morte do cónego Manuel de Aguiar.


 


1769 – Reside na propriedade O desembargador José Pereira Sarmento, reside na


propriedade, juntamente com a sua mulher, D. Maria Bárbara, três criados e quatro escravos.


 


1772 – A quinta encontra-se entregue aos cuidados de um caseiro.


 


1777 – O Desembargador (então Corregedor do Bairro Alto) volta a usar a propriedade como residência permanente.


 


1827/1828 – A casa serve de residência nupcial à infanta D. Ana de Jesus Maria e ao seu marido o marquês (depois duque) de Loulé.


 


1835/1840 – A propriedade encontra-se na posse de António Victor Pereira de Sousa Peres, qua aí reside com a mulher, D. Tomásia, três filhos e sete criados. É a ele que se deve o nome pelo qual ela é conhecida.


 


1847 – Vicente Gonçalves Rio Tinto, 1º Barão de Rio Tinto (1803-1867). É a ele que se deve a feição atual do edificado.


 


1849 – A Expensas do barão, constrói-se o chafariz junto à quinta.


 


1867 – A propriedade é adquirida por José Iglesias, que posteriormente a lega a sua filha, Maria Ernestina, esposa do conselheiro José da Silveira Viana;


 


1896 – Obras de reparação de canalizações.


 


1929 – Obras clandestinas de reparação das coberturas.


 


1933 – Obras de beneficiação geral.


 


Século XX, década de 40 – Expropriação de parte dos terrenos da quinta pela CML, sendo proprietário o Dr. Francisco Cortês Pinto, que mais tarde a lega a sua filha, Maria Elvira Cortês Pinto de Carvalho Seixas.


 


1948 – Instalação no edifício do Colégio Visconde de Garrett.


 


1952 – Pinturas e obras de beneficiação geral.


 


1959 – Passa a funcionar no imóvel a escola “O Beiral”. Início de incêndio no 1º andar, provocado pelo fogão de sala (dezembro).


1960 – Obras de reparação, na sequência do incêndio de dezembro de 1959.


 


1961 – Obras de beneficiação e limpeza.


 


1964 – Funciona, paralelamente ao Colégio, uma escola de educadoras de infância.


 


1965 – Princípio de incêndio no 1º andar, provocado pelo fogão de sala. Reparação das coberturas.


 


Século XX, década de 90 – Aquisição do edifício pela Câmara Municipal de Lisboa.


 


Factos e curiosidades:


 


Infanta D. Ana Maria de Jesus - Inúmeras fontes bibliográficas e testemunhos da época dão conta de que a 1ª marquesa de Loulé, D. Ana de Jesus Maria, teria sido, à semelhança dos seus irmãos mais novos, o ex-infante D. Miguel e a D. Maria da Assunção, apenas uma filha bastarda reconhecida pelo rei D. João VI de Portugal, fruto das famosas ligações adúlteras de D. Carlota Joaquina de Bourbon, com os seus amantes e criados. Segundo estas, o próprio rei D. João VI terá confirmado não ter tido relações sexuais com a sua esposa durante mais de dois anos e meio antes do nascimento dos três últimos filhos, tempo durante o qual o rei e a rainha terão vivido numa permanente guerrilha conjugal e só se encontravam em raras ocasiões oficiais. Laura Permon, a duquesa de Abrantes e mulher do General Junot, declarou publicamente que: "O erário público pagava a um apontador para apontar as datas do acasalamento real, mas ele tinha pouco trabalho. Isso não impedia D. Carlota Joaquina de ter filhos com regularidade e, ao mesmo tempo advogar inocência e dizer que era fiel a D. João VI, gerando assim filhos da Imaculada Conceição." [...] "Mas uma coisa é saber-se que não era o pai, outra é dizer quem era o pai, porque D. Carlota Joaquina, não era fiel nem ao marido nem aos amantes".


 


Segundo vários autores e inclusive os relatos da própria época, a 1ª marquesa de Loulé era filha do jardineiro do palácio da rainha, ou de um outro serviçal do Ramalhão (o palácio localizado perto de Sintra, onde D. Carlota Joaquina vivia separada do seu real esposo). Para Raul Brandão, por exemplo, João dos Santos, o cocheiro e jardineiro da Quinta do Ramalhão, era o pai de D. Maria da Assunção e de D. Ana de Jesus Maria, enquanto o D. Miguel era o filho do marquês de Marialva. Por seu lado, Alberto Pimentel assegura que "...passa como certo que dos nove filhos que D. Carlota Joaquina dera à luz, apenas os primeiros quatro tiveram por pai D. João VI". A própria duquesa de Abrantes, no entanto, não deixou de sublinhar nas suas "Memórias" a "diversidade cómica" da descendência do rei D. João VI: "O que é notável nesta família de Portugal é não haver um único filho parecido com a irmã ou o irmão...".


D. Ana de Jesus Maria teve que partir, em 1808, para o Brasil, juntamente com a família real portuguesa e a corte, na sequência da invasão napoleónica em Portugal.


 


No dia 5 de dezembro de 1827, no Palácio Real de Queluz, D. Ana de Jesus Maria desposou o general, político, maçon e nobre D. Nuno José Severo de Mendoça Rolim


de Moura Barreto, então titulado como 9.º conde de Vale de Reis e 2.º Marquês de Loulé (mais tarde, ele tornar-se-ia 1.º duque de Loulé). D. Nuno José foi, por várias vezes, primeiro-ministro de Portugal.


Ao contrário dos casamentos das suas irmãs, o casamento de D. Ana de Jesus Maria não se deu por razões políticas e a primeira filha do casal nasceu em 27 de Dezembro daquele ano, ou seja, vinte e dois dias após a cerimónia. Isso indica que ela estava grávida quando se casou. Durante esse tempo, habitou a quinta do Peres, onde se encontrava com regularidade com o seu futuro marido.


 


Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres.